sábado, 27 de novembro de 2010

Cotas cotidianas

Acordou, coçou os olhos e esticou os braços à procura de uma cabeça ao lado. Não encontrou. Meia hora depois, levantou-se e foi para o chuveiro. Acima dos olhos, algo que a balança não consegue medir. A água ajuda, não muito, a despertá-lo, mas só isso. Posteriormente, à mesa, o ritual de sempre, às vezes movimentado, mas cujo objetivo principal é um só. Em direção ao dignificador, caminhando sem as pernas, a boca e os ouvidos mantêm a esperança, ou, na verdade, apenas agem por impulso.

Chegando ao segundo lugar estático, um pequeno intervalo de segundos e uma parede separam reações distintas que, ao passar dos dias, vão vivendo cada vez mais insuportavelmente lado a lado. O tempo, implacável como sempre, contribui enormemente para o constante exercício, tão necessário e tão prejudicial. Os olhos tentam distrações, porém acabam se cansando. Apenas alguns momentos de apreço e ternura.

Antes do terceiro cenário, novamente movimentos não intencionais, desta vez bem mais constantes. O corpo é castigado pelo insuportável abafado. Mais uma tentativa de enxergar algo diferente e, diante de tantas riquezas e possibilidades, uma imensa sensação de vazio. Como diz o poeta “descobri que o que eu queria não tava ali”. Afora mais alguns poucos momentos de desvios, o longo e cansativo caminho seguia firme em sua impiedosa linearidade.

E, com muito esforço, chega ao fim, que na verdade se configura comodamente como o início. O corpo se unifica em torno de uma medida austera que se faz necessária, mas que, de alguma forma, acaba escondendo as verdadeiras barreiras. Em seguida, o relógio passa a atuar como agente de pressão. A rendição forçada acaba sendo feita. Externamente, nada. Internamente, tudo.

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