terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ode ao olhar

A encantadora magia do olhar paralisa o móvel
Que congela e vive congelado em seu polo
Gravando nos imensos paredões as fotografias
Que tanto acalmam seus olhos
Resistindo até ao mais austero derretimento
Ou não

O olhar se perde em meio a tantos olhos
Que em suas duras avaliações
Sentenciam o irreversível
E em suas puras inocências
Dão asas ao martírio

O olhar age como um muro rígido e opaco
O olhar toma a forma de um farol ainda a encontrar um rumo
O olhar age como pedras a deixarem-se deslizar a cachoeira
O olhar constrói pontes que muitas vezes não são atravessadas
O olhar nada mais é do que apenas olhar

sábado, 27 de novembro de 2010

Cotas cotidianas

Acordou, coçou os olhos e esticou os braços à procura de uma cabeça ao lado. Não encontrou. Meia hora depois, levantou-se e foi para o chuveiro. Acima dos olhos, algo que a balança não consegue medir. A água ajuda, não muito, a despertá-lo, mas só isso. Posteriormente, à mesa, o ritual de sempre, às vezes movimentado, mas cujo objetivo principal é um só. Em direção ao dignificador, caminhando sem as pernas, a boca e os ouvidos mantêm a esperança, ou, na verdade, apenas agem por impulso.

Chegando ao segundo lugar estático, um pequeno intervalo de segundos e uma parede separam reações distintas que, ao passar dos dias, vão vivendo cada vez mais insuportavelmente lado a lado. O tempo, implacável como sempre, contribui enormemente para o constante exercício, tão necessário e tão prejudicial. Os olhos tentam distrações, porém acabam se cansando. Apenas alguns momentos de apreço e ternura.

Antes do terceiro cenário, novamente movimentos não intencionais, desta vez bem mais constantes. O corpo é castigado pelo insuportável abafado. Mais uma tentativa de enxergar algo diferente e, diante de tantas riquezas e possibilidades, uma imensa sensação de vazio. Como diz o poeta “descobri que o que eu queria não tava ali”. Afora mais alguns poucos momentos de desvios, o longo e cansativo caminho seguia firme em sua impiedosa linearidade.

E, com muito esforço, chega ao fim, que na verdade se configura comodamente como o início. O corpo se unifica em torno de uma medida austera que se faz necessária, mas que, de alguma forma, acaba escondendo as verdadeiras barreiras. Em seguida, o relógio passa a atuar como agente de pressão. A rendição forçada acaba sendo feita. Externamente, nada. Internamente, tudo.

domingo, 31 de outubro de 2010

Volta

Não sei. O que fazer, o que evitar, o que escrever, o que rasgar, o que ler, o que apagar, o que pensar, o que ver, o que dizer, o que ouvir, o que imaginar, o que gritar, o que sussurrar, o que amar, o que odiar, o que compartilhar, o que individualizar, o que clamar, o que declamar, o que aconselhar, o que respeitar, o que desprezar, o que controlar, o que descontrolar, o que experimentar, o que procurar, o que esquecer, o que resgatar, o que achar, o que perder, o que construir, o que destruir, o que reconstruir, o que começar, o que terminar, o que sentir, o que abraçar, o que empurrar, o que condenar, o que perdoar, o que sorrir, o que chorar, o que sonhar, o que realizar, o que prender, o que beijar, o que cuspir, o que libertar, o que mudar, o que abrir, o que fechar, o que tocar, o que distanciar, o que queimar, o que apagar, o que machucar, o que acariciar…

Você não vai conseguir terminar de ler e eu não vou conseguir terminar de escrever.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Vinte e cinco dias depois

Uma vida inteira resumida a 24 horas (os 80 anos de um homem velho ou o primeiro ano de um ser recente, tanto faz, sofrimento tem passado, presente e futuro). O antes interminável e poderoso filme com infinitas horas de duração, sequência ininterrupta e cenas consolidadas se encerra bruscamente e passa a dar lugar a um repentino e inesperado curta-metragem rodando instantaneamente. As câmeras não sabem onde se posicionar nem para onde apontar, as imagens não sabem com quais cores se pintar, o protagonista não decidiu se ficará de pé ou deitado. A nova projeção caminha rumo ao incerto, certa apenas de que, se encarada com voracidade, deixará transparecer em sua penumbra uma ancestralidade que talvez não seja mais reconhecida como parte de uma mesma família. A nova projeção caminha rumo ao incerto, certa apenas de que, a qualquer momento, pode se encerrar da mesma como começou: num violento corte.

Toda a fortaleza da estabilidade se esvai em poucos segundos e em poucas palavras. Uma incômoda “nudez” passa a reinar com hostilidade e, no alto de sua fragilidade, permite o estabelecimento de parasitas. O sentido perde a si próprio. O corpo ganha autonomia, com as reações se tornando ações. Os olhos piscam mais rápidos, como um farol sem saber para o que sinalizar. O suor que escorre não deixa claro se o corpo molhado foi realmente purificado. A angústia crescente passa a buscar abrigo no martírio. As palavras desaparecem, aparecem e depois desaparecem. Os gestos resolvem deixar de lado a voluntariedade. Tudo obedecendo a uma magistral ciranda, tão estranha e paradoxal.

As velas ainda não compreenderam que papéis devem desempenhar. A família toda reunida, os amigos todos reunidos, tudo perfeitamente preparado…

O dia já chega à sua vigésima quinta hora.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Primeiros focos

Depois de duas longas décadas de vida, de três longos períodos na universidade e de uma longa semana ponderada, decidi aderir ao blog, dando uma oportunidade à tecnologia para que se torne uma fiel escudeira no extenso, tenso e denso caminho que ainda tenho pela frente, até que o fogo cumpra seu papel (trocadilho autopromovente).

Com certeza as postagens não serão diárias, muito provavelmente não serão semanais e talvez até não sejam nem mensais... enfim, o tempo (sempre ele), a inspiração (sempre ela) e a disposição (principalmente ela) ditarão a velocidade da carruagem.

Vou procurar escrever sobre o que mais afetar a minha cabeça. Juro que são poucas coisas. Garanto também que quase nenhumas são bizarras. Além disso, asseguro que todo mundo vai entender o que eu escrevo, a ponto de quererem ser meus seguidores, comentar na rua, fundar igreja, criar comunidade no orkut e divulgarem uma biografia não-autorizada minha.

Enfim e sem mais delongas, vamo simbora!