quarta-feira, 26 de maio de 2010

Vinte e cinco dias depois

Uma vida inteira resumida a 24 horas (os 80 anos de um homem velho ou o primeiro ano de um ser recente, tanto faz, sofrimento tem passado, presente e futuro). O antes interminável e poderoso filme com infinitas horas de duração, sequência ininterrupta e cenas consolidadas se encerra bruscamente e passa a dar lugar a um repentino e inesperado curta-metragem rodando instantaneamente. As câmeras não sabem onde se posicionar nem para onde apontar, as imagens não sabem com quais cores se pintar, o protagonista não decidiu se ficará de pé ou deitado. A nova projeção caminha rumo ao incerto, certa apenas de que, se encarada com voracidade, deixará transparecer em sua penumbra uma ancestralidade que talvez não seja mais reconhecida como parte de uma mesma família. A nova projeção caminha rumo ao incerto, certa apenas de que, a qualquer momento, pode se encerrar da mesma como começou: num violento corte.

Toda a fortaleza da estabilidade se esvai em poucos segundos e em poucas palavras. Uma incômoda “nudez” passa a reinar com hostilidade e, no alto de sua fragilidade, permite o estabelecimento de parasitas. O sentido perde a si próprio. O corpo ganha autonomia, com as reações se tornando ações. Os olhos piscam mais rápidos, como um farol sem saber para o que sinalizar. O suor que escorre não deixa claro se o corpo molhado foi realmente purificado. A angústia crescente passa a buscar abrigo no martírio. As palavras desaparecem, aparecem e depois desaparecem. Os gestos resolvem deixar de lado a voluntariedade. Tudo obedecendo a uma magistral ciranda, tão estranha e paradoxal.

As velas ainda não compreenderam que papéis devem desempenhar. A família toda reunida, os amigos todos reunidos, tudo perfeitamente preparado…

O dia já chega à sua vigésima quinta hora.

2 comentários:

  1. imagina quando fizer 24! Vai ser um bolo de froooooco!

    Tá roxedo, curtento!

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  2. esse incen(dio)diário tá muito mensal pro meu gosto.

    abrass birrau.

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